Em tese, o ego (corpo + personalidade) é um ator que desenvolve, no teatro da vida planetária, uma personagem provisória que representa aquilo que verdadeiramente somos em todo e qualquer canto do Universo: um alma, um ser espiritual, um ser de luz.
Como alma, chegamos à Terra com um propósito e um roteiro. Viemos a apreender coisas para nos aperfeiçoar, pois esse é o sentido eterno do Universo, a evolução sem fim. Também temos que deixar por cá o muito ou o pouco que já sabemos, para assim colaborar com a evolução de outros, do mesmo jeito que outros, direta ou indiretamente, colaborarão com nós.
Para fazer realidade isso, aqui precisamos de um ego/personagem que nos expresse cabalmente frente ao mundo. Todos somos seres espirituais vindos de outros planos galácticos e vibramos numa frequência mais veloz e por isso somos etéreos, invisíveis. Como fazer para poder ter uma experiência no plano terreno e interatuar com os demais seres do planeta? Com um corpo mais denso e que por isso vibre mais devagar e se faça visível. E com um cérebro que ordene a esse corpo as ações necessárias para que a alma possa desenvolver seu roteiro.
As formas do corpo, o modo em que ele se movimenta, o jeito com que atua, as roupas que veste, as atividades que pratica vão construindo e desenvolvendo uma personalidade, o perfil do personagem. Essa personalidade, na teoria, deve traduzir exatamente a alma, como ela é e o que ela quer. O personagem/a personalidade que nos representa é o veículo que nos leva e nos traz e que chamamos de ego.
Então, o meu ego é uma chave para fazer minha passagem por cá. Mas, amiúde, o meu ego acaba sendo um ator muito ruim. Para andar por esse mundo fora e conseguir ser funcional ele se copia muito dos demais e acaba parecendo pouco comigo. Porque? Porque eu, alma, deixo que ele vá atrás dos padrões da sociedade enquanto eu fico escondida.
Mas, porque se eu venho a fazer o meu destino individual vou ficar escondida? Porque o sistema que dominava o mundo (e ainda teima em dominar) impus padrões, formas de ser e de se comportar, com o intuito de formatar uma sociedade homogênea, más fácil de ser controlada. Se a gente foge dos padrões era (ainda é) castigada, marginalizada.
Então eu, alma, tenho medo de ser como sou, porque eu não sou tipo padrão, eu sou diferente. E por isso tenho medo à rejeição. E, por tanto, sinto em perigo minha sobrevivência.
O que nos chamamos de alma, Carl Jung - o criador da psicologia analítica -, chamava de self. O self é uma palavra inglesa que pode ser traduzida como si mesmo e, segundo Jung, representa nossa essência ou aquilo que existe de único e peculiar na nossa personalidade.
E como sou única, peculiar e irrepetível, eu, alma (ou self) sempre serei diferente, não tem jeito. Alias, todas as almas são diferentes, únicas, peculiares, irrepetíveis. Ou sou o que sou ou vou muito sofrer me negando a mi mesma.
Acontece que mesmo compreendendo como é esse negócio, muitas vezes não consigo sustentar quem, em verdade, eu sou. Porque acredito pouco em mim. Até acho que sou uma pessoa inadequada, que alguma coisa está errada em mim.
Então? Ai é que vem o tal de amor-próprio.
Preciso me amar. Porém, me amar não é exaltar o meu ego, não é gostar de mim por fora, aprovar minha apariência ou cultivar o egoísmo, mas recuperar a identificação com a minha alma e o contato direto com a essência, tudo aquilo que levo por dentro, o essencial de mim. Amar my self. Preciso me reencontrar comigo mesma, para me reconhecer, me descobrir.
Como nos foi ensinado por inúmeros mestres e sábios, tudo que existe no Universo é energia. E a energia superior é o amor, que expressa uma força e uma inteligência inigualáveis. A nossa galaxia se organiza a partir dessa energia e se nutre dela. A fonte está no centro da galaxia, aonde tudo chega e de onde tudo se expande. Essa fonte, chamada, entre outras denominações, Deus ou mesmo Fonte, é e emana amor.
Nós estamos organizados atómicamente do mesmo jeito. Por isso, nos amar a nós mesmos é simplesmente lembrar que, em essência, somos amor. Ou um fractal de aquele Deus, uma entidade feita do pó das estrelas, um ser feito a imagem e semelhança do amor da divinidade.
O preceito que nos conclama a amar a Deus por sobre todas as coisas, é um chamado a nossa consciência para despertar nossa própria fonte de amor e amar a todos e tudo, pois nós e tudo o demais somos as partes imprescindíveis da totalidade galáctica chamada Deus -ou Alá, ou Grande Espírito, ou Fonte Original, etc- e que conforma o Um. Somos todos Um. E sendo nós a entidade que temos mais perto, é lógico que começemos por amar a nós mesmos.
Para isso, nossa consciência precisa sair de todos os armários conceituais e da armadura cárnica, liberar-se das limitações dos padrões de fora para sentir tudo isso invisível que sou por dentro, para saber o que estou fazendo por estas pampas, o que é aquilo que eu desejo experimentar, vivenciar, seja lá o que for. E nesse caminho, indicar ao cérebro que deve dar sua forcinha liberando ocitocina, o hormônio do amor que ajuda a generar prazer, afeto e empatia.
A palavra chave é respeito. Amar a si próprio é respeitar essa essência sagrada que eu sou. Tratando e cuidando dela como se fosse uma criança. Me responsabilizar por mim, sem esperar que alguém chegue para me amar. Claro que é maravilhoso ser amado por outro, porém isso é uma bela possibilidade e não uma necessidade. E eu vou saber como me amar melhor que ninguém por uma razão óbvia: quem sabe de mim sou eu. E ainda por cima, é me amando que vou conseguir amar melhor ao outro, porque saberei amá-lo não em sua aparência mas em sua essência.
Amor-próprio é acatar na carne o mandato divino da alma. Colocar meu ego/personagem ao serviço de meu ser espiritual, esse secreto que amo incondicionalmente. E por amor, tento iluminar suas assustadoras sombras com minhas reveladoras luzes. Fazendo comigo o movimento de expansão que o Universo faz com ele próprio. Me alinhando com ele em vez de andar caminhando na contramão.✤
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