Hoje, dia 1º de outubro, é comemorado o Dia Mundial do Vegetarianismo. A data foi estabelecida pela Sociedade Vegetariana Norte-Americana, em 1977, para conscientizar sobre a importância ética, ambiental e humanitária dessa prática alimentar.
Apesar de muitas pessoas não saberem, ser vegetariano vai muito além de apenas não consumir carne. É um tipo de dieta que permeia todos os campos da vida e contribui para a construção de uma existência que agrida menos a natureza, proteja o meio ambiente e cuide das expectativas das pessoas.
O vegetarianismo pode ser a mais eficaz resposta ao alerta lançado pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação) apontando que a biodiversidade do planeta está em grave risco, e que a base dos sistemas alimentares da humanidade está ameaçada.
O principal vilão é, sem dúvida, o desmatamento, que causa impactos negativos múltiplos na biodiversidade vegetal e animal. A agressão é tão grande que afeta até mesmo aquilo que não foi diretamente atingido. Isso acontece porque, ao desmatar determinadas áreas, diversas espécies que precisam de características específicas daquele ambiente para sobreviver passam a ter suas existências comprometidas.
Porém, essa situação não é exclusiva das áreas de pasto. A indústria da pesca causa danos similares na biodiversidade, poluindo rios e oceanos, destruindo sistemas marinhos e eliminando, a uma velocidade alarmante, os estoques ictícolas.
Se não bastasse, milhares de espécies, como lobos, ursos, lontras e onças, vistas como uma ameaça para as indústrias de exploração animal - por razão do risco que oferecem à vida do gado -, são assassinadas diariamente para impedir o processo natural de caça.
E tudo isso para os seres humanos possam comer um tipo de alimento que não precisam: carne.
Cerca de 75% das terras agricultáveis do planeta são usadas para pastagem e produção de ração para a pecuária. Na América Latina, as fazendas de gado são a principal causa do desmatamento de florestas e extinção de plantas nativas. Todos os anos cada vez mais campos de cultivo são instalados em solos inicialmente cobertos por floresta tropical.
Ao contrário do que se pode pensar, o constante desflorestamento da Amazônia deve-se sobretudo a criação de campos de cultivo de soja para alimentar gado de países desenvolvidos ou para construir pasto para o gado brasileiro. As madeireiras, a abertura de estradas e a ocupação desordenada, tem apenas papéis secundários nesta destruição.
Além da ocupação de vastas áreas de terreno para o cultivo de cereais, a atividade pecuária implica o consumo abundante de água potável, gasto de combustíveis fosseis e utilização massiva de pesticidas e drogas. Daqui resulta a erosão do solo, a escassez e contaminação dos lençóis de água, a destruição das florestas tropicais e a desertificação de extensas áreas da superfície terrestre.
O gado, causa e consequência do desmatamento, é o outro grande vilão, colaborando para o aquecimento global. A FAO destaca que a pecuária é responsável por 14,5% dos gases de efeito estufa, poluindo mais do que todos os meios de transporte combinados. Acha um exagero? Veja esse exemplo: a produção de apenas um hambúrguer de carne de aproximadamente 200g é capaz de liberar na atmosfera a mesma quantidade de gases estufa quanto dirigir um carro por 16 km.
O valor estimado pelos cientistas é de que mais de 500 milhões de toneladas de metano são liberadas anualmente na atmosfera, exclusivamente, por conta da criação de gado. Sua emissão, além de ser extremamente prejudicial ao planeta, também representa enormes riscos à saúde humana se inalado, podendo causar parada cardíaca, asfixia, inconsciência e até danos severos no sistema nervoso central.
Problemas de desertificação, erosão e redução dos nutrientes do solo contribuem significativamente para o aquecimento global. As queimadas, método muito utilizado para a retirada da vegetação original e a criação de pastos, são, também, um agravante para a liberação de gases e para que as terras se tornem improdutivas.
Além de todos esses danos diretos, o consumo de carne também é responsável pelo incentivo de uma cultura de desperdício. A pecuária precisa se autoalimentar para existir, portanto, nessa lógica, metade de toda proteína produzida no mundo acaba sendo usada como ração. Especificamente, no Brasil, esse número é ainda maior, chegando a 79%, enquanto apenas 16% é destinada à alimentação humana.
Desta forma, vacas, porcos e galinhas acabam consumindo muito mais alimentos do que são capazes de fornecer. A Sociedade Vegetariana Brasileira ressalta que as plantas são captadoras naturais de energia solar, transformando-a em energia comestível (química). Animais, ao contrário, precisam extrair a energia dos ecossistemas. Além disso, a maior parte da energia ingerida (em média 90%) não é transformada em carne (mas usada para o animal sobreviver, se locomover, manter a temperatura corpórea). A criação de animais para consumo representa, assim, um grande desperdício do ponto de vista energético.
Veja o seguinte dado: na produção de uma dieta carnívora utilizam-se 48.000 litros de água por dia. 2.400 litros diários seriam o suficiente para a produção de uma alimentação vegetariana. Isto porque na pecuária, a água é utilizada na irrigação dos grãos para ração, dessedentação dos animais, higienização das instalações e retirada de dejetos.
O gasto estimado para produzir 450g de proteína de carne é 16 vezes maior do que o necessário para produzir a mesma quantidade de proteína vegetal.
Estudos brasileiros apontam que em cada segundo, uma área florestal do tamanho de um campo de futebol é utilizada na produção de apenas 257 hambúrgueres de vaca.
Um boi precisa em média 3,5 hectares de terra para produzir 200 kg de carne, num período de quatro a cinco anos, em tanto, estima-se que na mesma área seja possível produzir, consoante ao tipo de cultura, cerca de: 19 toneladas de arroz; 32 de soja, 34 de milho, 23 de trigo e 8 de feijão, se pensarmos apenas numa colheita anual, sendo que nesta região são comuns duas a três colheitas por ano. Multiplique agora pelos 4/5 anos que precisa um boi.
200 kg de carne de um boi dariam de comer uma vez a umas 1.000 pessoas (200 gramas por pessoa). Já 76 toneladas de arroz (19 x 4 anos) alcançariam para preparar um bem servido prato (125 gramas) para 608.000 pessoas. Se quiser, você pode fazer cálculos parecidos com a soja, o trigo, o feijão, etc. Enquanto isso, o mundo tem cerca de um bilhão de pessoas famintas.
Tendo em vista este cenário, a implantação de uma alimentação vegetariana ou vegana no planeta poderia ser uma forma de diminuir estrondosamente o número de pessoas em situação de fome extrema.
Quando a fome no mundo e o aumento da rentabilidade dos recursos terrestres se tomam cada vez mais sérios, a alimentação vegetariana surge como uma dieta rentável que pode contribuir para uma franca melhoria da situação.
Agora que você já conhece a relação entre vegetarianismo e meio ambiente, que tal começar a reduzir o consumo de carne em sua alimentação, melhorar assim sua saúde e fazer sua contribuição à segurança alimentar de todos nós? Talvez seja a hora de começar a experimentar, não acha? ✤
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